Não sei trinar,
Apenas canto as músicas
Que o rádio cantava
Quando o senhor estava em casa
E eu, no quarto, me trancava.
Não sei voar,
Apenas alço poéticas
Que migram pra cá
Desde que, trancado,
Eu ensaio escapar.
Não sou pássaro engaiolado
Que come na sua mão
E trina alucinado
Ao ouvi-lo assobiar uma canção.
Com comovido carinho,
O senhor interage com o corrupião
Chamando-o de filho
Enquanto troca sua água.
Talvez por desobedecer
A gaiola e sua legislação
E assobiar outras aves e canções,
Tenha eu sido deserdado
Do seu peito, do seu abraço
E, embora alado, eu permaneça
Fora da gaiola que aprisiona
Você e seus pássaros: teu coração.
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