domingo, 20 de março de 2016

LIVRO


Como organismo vivo,
venosa celuloide de negro plasma, 
página pele pálida 
onde parasitam tatuagens,
cirurgias, brigas e o tempo.
Livro-me de ti livro 
como água lavando a ferida,
como tosse expulsando 
o sangue tuberculoso,
como lágrima levando 
do organismo
estranho organismo;
maligno ser inoculado no peito 
que afeta também o pulmão:
livro, deténs o meu livramento. 
Guardas nas entranhas meu fruto;
Digeres o pão amassado pelo cão; 
Esterilizas a mordida no coração.
Livro, companheiro de fossas 
E conspirador de revoluções,
guerrilheiro quando a guerra
é contra o mundo 
quando o mundo não é livro,
apenas prateleira.
Livro, lido com ti
E tua sonífera presença;
Livro, lido e relido,
Me livro de ti.
Tua epiderme será devorada 
quando devorado eu for pela terra
e tuas folhas feridas por palavras
serão adubo para damas da noite
- quiçá torne-se trigo, meu livro -
e enquanto houver um homem na terra,
lá estarás em forma de título. 

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