quinta-feira, 7 de abril de 2016

POETA VELHO

O poeta envelhece 
e o peso do corpo vira poesia,
calvície e osteoporose rimam;
perde a conta das perdas,
perdas inerentes ao verso
ao entorse no dorso,
aos olhos infantes 
separados da mãe em plena Sé;
olhos que choram, viram choro e fizeram chorar.

O poeta envelhece
feito o sofá forrado de sulcos,
feito a cama rangente de tanto amar,
feito os livros proscritos na biblioteca
e o Corcel desmanchado no poente ferro velho.
O poeta envelhece
resignado de sonhar 
e lutar por bandeiras:
Seus sonhos foram reduzidos a sebos
e sua bandeira cobre o mendigo no relento.

O poeta envelhece,
mas todo poeta é um velho prematuro,
todo poeta é um príncipe caduco,
todo poeta é um cardíaco maluco... 
Enfermo fujão que faz poesia de qualquer enfermeira.
A velhice não o espanta 
o espelho não o talha,
só lâmina amolada
e poeta sem óculos
e o barbear ganha diálogos de Shakespeare.

O poeta envelhece,
a poesia continua jovem
e sai do banho nua 
pingando sua insolência no carpete da sala,
valendo mais um cálido poema do velho
sempre menino quando poeta.

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