a velha caminha até o mar
e seus passos vacilantes
são barcos sem tripulantes.
e seus passos vacilantes
são barcos sem tripulantes.
a velha molha os pés no mar
pés azuis de tantas veias
lembram corais espalhados na areia.
pés azuis de tantas veias
lembram corais espalhados na areia.
a velha se inclina para o mar
com ossos corroídos pela idade:
convés estalando durante a viagem.
com ossos corroídos pela idade:
convés estalando durante a viagem.
a velha se olha no espelho do mar
e seu feio rosto de esponja
é uma rocha gasta pelas ondas.
e seu feio rosto de esponja
é uma rocha gasta pelas ondas.
a velha treme e se arrepia no mar
e sua pele tatuada e engiada
é naufrágio emergindo na enseada.
e sua pele tatuada e engiada
é naufrágio emergindo na enseada.
a velha mira e aponta pro mar
como quem divisa um homem ao mar
mesmo sem ter um jovem olhar.
como quem divisa um homem ao mar
mesmo sem ter um jovem olhar.
a velha beija e agradece ao mar
lhe entregando como oferenda
a memória: sua única renda.
lhe entregando como oferenda
a memória: sua única renda.
a velha, enfim, dá as costas ao mar
levando consigo além do ostracismo,
a única coisa que, feito o mar,
não envelheceu: seu nome de batismo.
levando consigo além do ostracismo,
a única coisa que, feito o mar,
não envelheceu: seu nome de batismo.
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